O Centro de Pesquisas Volcani é a única estufa oficial israelense de maconha, dedicado a plantar e pesquisar as propriedades de cannabis para uso medicinal, e nesta quarta-feira abriu suas portas pela primeira vez um grupo de jornalistas, entre eles a Agência Efe.
“Nos centramos na investigação de doenças que não têm cura por enquanto, as chamadas doenças órfãs”, explicou a médica Dvori Namdar, diretora química do projeto.
As quatro estufas situadas perto da cidade de Rishon Lezion, nos quais está proibido tocar nas plantas sem luvas, onde a luz é meticulosamente calculada segundo a cepa e cujos nomes são proibidos de divulgar por parte dos funcionários, abrigam centenas de plantas.
As plantas pertencem à família “sativa”, conhecida pelos seus efeitos psicotrópicos e também os beneficentes, detalhou a química.
Ela é usada para tratar problemas relacionados com desordens alimentícias, como anorexia; a espasticidade e as dores na esclerose múltipla; diabetes, inflamações e, inclusive, em relação a sintomas de doenças neurodegenerativas como o parkinson.
“Na cannabis foram detectados mais de 500 fitoquímicos (substâncias que são encontradas em alimentos de origem vegetal). Pelos muitos componentes beneficentes que tem e a necessidade de padronizar o tratamento, tanto no relativo à composição como à dose, trabalhamos para que o uso de cannabis seja padronizado”, disse o professor Itamar Glazer, diretor de pesquisas do centro.
A pesquisa – feita pública agora, mas em andamento há quase três anos – é inovadora “porque centraliza todos os processos”.
“Somos o único laboratório que cultiva a planta, estuda seus componentes químicos, estuda sua aplicação biológica e em certos projetos também fazemos tratamentos pré-clínicos em cooperação com diferentes hospitais israelenses”, ressaltou a médica Namdar.
Uma das primeiras tarefas é neutralizar o efeito psicotrópico da planta.
“Uma das doenças que nos preocupa, por exemplo, é um tipo de epilepsia infantil, que é minoritária e, portanto, não é investido muito em sua pesquisa”, precisou.
Estas crianças, acrescentou, “não costumam passar de 10 anos, morrem antes pelos múltiplos ataques sofridos e foi descoberto que em 40% dos pacientes tratados com cannabis, essas crises podem ser reduzidas de maneira significativa ou mesmo desaparecer”.
O problema é que o caráter psicotrópico de cannabis impede às crianças “ser funcionais, por isso buscamos reduzir o efeito psicoativo e aumentar os princípios ativos médicos”, acrescentou Namdar.
A Agência de Alimentos e Remédios dos Estados Unidos (FDA, pelas suas siglas em inglês) aprovou há dois dias o uso de cannabis para casos concretos de epilepsia infantil.
Apesar do processo começar com a pesquisa de novos tratamentos, e até que estes cheguem ao mercado, pode demorar até 20 anos, a doutora Moram Mazuz, diretora do laboratório do projeto, é otimista.
“Nós estamos vendo em nossos experimentos a morte de células cancerígenas, vemos a redução de certas inflamações, vemos que funciona”, assegurou.
Fonte: EFE.